segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mass Effect 3 - opiniões

Caros,
 
Por uma questão de foco, tenho como princípio não falar sobre vídeo-games no blog (ainda que sejam RPGs).
 
Porém, como disse na mensagem anterior, Mass Effect ocupou grande parte dos meus momentos de lazer neste ano, e fiquei com vontade de fazer uma pequena postagem sobre o jogo.
 
A menos que você tenha passado os últimos 6 meses fora da Terra, ou não se interesse pelo assunto, a terceira parte da franquia causou um verdadeiro estardalhaço entre os fãs - a polêmica foi tão grande que virou notícia fora da imprensa especializada, recebendo uma série de reportagens em veículos de comunicação como Forbes e CNN. 
 
E já que todo mundo está falando a respeito, aqui vai minha opinião, focando na história e nos aspectos de RPG do jogo.
 
O bom
Vamos começar pelo que o jogo tem de bom.
 
Apesar de seus inúmeros problemas, várias missões do jogo, como Priority: Tuchanka e Priority: Rannoch são espetaculares. São extremamente bem escritas e desenvolvidas, têm forte ligação com fatos e acontecimentos das duas partes anteriores da série e são muito envolventes. Não vou estragar a surpresa para quem ainda não jogou, mas digo que ao final de ambas as missões eu estava, literalmente, chorando. Foi a primeira vez que chorei em um vídeo-game (e não, eu não chorei com a morte de Aerith em FF VII).
 
As interações com Garrus Vakarian também são dignas de nota. Todas as cenas entre ele e Shepard são incríveis, e o relacionamento de amizade entre os dois é muito bem desenvolvido. A cena de despedida entre os dois em Londres dá nó na garganta de qualquer um. Ponto para Brandon Keener, dublador do personagem, e sua interpretação espetacular.
 
O mal
Bom, aqui as coisas começam a complicar.
 
Sim, o final original é uma porcaria - e nem o Extended Cut resolve o problema, já que limita-se apenas a esclarecer alguns pontos e tapar alguns buracos. O problema maior é que basicamente, os últimos 15 minutos do jogo parecem completamente desconexos do restante da história. É como se o final de outro jogo fosse utilizado, tamanha é a disparidade com a história e com os temas principais da série (sempre há esperança, importância do livre-arbítrio, união para enfrentar um inimigo comum), que são jogadas no lixo. Basicamente na seqüência final o jogador é privado de toda e qualquer oportunidade de escolha por um Deus Ex Machina literal.
 
Me lembrou alguns mestres ruins que eu tive, que adoravam levar os jogadores pelo cabresto, cerceando seu livre-arbítrio (isso é o que chamamos em inglês de railroading).
 
Outro grave defeito desta terceira parte, a meu ver, é que o aspecto de RPG parece ter sido propositalmente mitigado. Por exemplo, grande parte dos diálogos é automática, com pouca participação do jogador; a opção "neutra" foi removida na maioria dos diálogos; e não há tantas opções para investigação e exploração.

Além disso, as missões de "busca" de War Assets (que no final não fazem diferença alguma) também poderiam ter sido trabalhadas com mais detalhe, pois deixam muito a desejar - basicamente você ganha missões ao passar ao lado de um NPC e ouvir uma conversa ou diálogo, para então ir até determinado planeta, sondá-lo e voltar para avisar o NPC em questão que você achou o item que ele queria. Não há interação ou opção de diálogo além disso, como nas partes anteriores.
 
O feio
E é aí que o bicho pega. O final, apesar de horroroso e muito mal-escrito, não é o problema principal do jogo. Na verdade, ele é o sintoma derradeiro de um roteiro ruim, cheio de furos e clichês absurdos (com algumas exceções, que mencionei acima).
 
O próprio conceito do Crucible, que culmina na seqüência final, é totalmente incongruente - uma suposta super-arma que é descoberta dias antes da invasão dos Reapers, e que é montada ainda que as raças da galáxia não saibam exatamente o que ela faz.
 
Absurdo, né? Pois é... aliás, um dos melhores artigos que li sobre os furos e bizarrices do roteiro de ME3 que vi é este aqui, A Logical Breakdown of Why the Mass Effect 3 Ending Makes No Sense.

Não sei dizer os motivos que causaram tantos problemas de roteiro, mas particularmente acredito que o jogo tenha sido lançado, talvez por pressão da distribuidora (Electronic Arts) antes de estar totalmente pronto - veja que, ao contrário das duas primeiras partes, ME3 ficou apenas dois anos em desenvolvimento. E certamente as mudanças na equipe de roteiristas, incluíndo aí a saída de Drew Karpyshyn, criador da série, também prejudicaram o desenvolvimento e conclusão da trama.
 
Como escrevi acima, o jogo não é totalmente deplorável, e se você conseguir fazer vista grossa para certos aspectos e se concentrar em suas partes boas, ele vale muito à pena.
 
Mas ainda assim eu me senti como se estivesse participando de um jogo de RPG com com muito potencial conduzido por um GM muito ruim ou inexperiente, que não sabe para onde levar a história - e pior, por não saber concluí-la, cria um final tosco simplesmente porquê precisa fechar a trama.
 
Até a próxima!
 
 
 
 
 

Um comentário:

  1. Ficou ótimo, primo! Tá escrevendo muito melhor do que a maioria dos redatores de canais de mídia conhecidos

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