sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Engessando a imaginação

Alguns meses atrás, por recomendação de uma amiga, comprei a edição no. 38 de "Turma da Mônica Jovem", que traz a história "Masmorras & Dragões".

Confesso que a premissa do gibi nunca me entusiasmou, mas me surpreendi com uma história divertida e que me trouxe várias lembranças da minha adolescência, que foi marcada por sessões semanais de RPG.

Porém, uma cena do gibi em particular me chamou a atenção - quando o PC do Cascão, um ladino, cai em uma armadilha, a primeira coisa que ele faz é fuçar vários livros de regras para tentar encontrar um meio de sair daquela situação. Confesso que fiquei pasmo... desde quando um PC precisa consultar livros de regras para fazer alguma coisa? E a imaginação do jogador? E a arbitragem do mestre?

Foi aí que me caiu a ficha: o gibi estava simplesmente reproduzindo o estilo de jogo em voga hoje, principalmente entre a galera que começou a jogar RPG a partir do ano 2000 com o sistema d20.

Há vários sistemas (d20, GURPS, Hero System, Rolemaster) que encorajam um determinado estilo de jogo no qual se não houver regras para uma determinada situação, fica implícito que tal ação não pode ser executada. Ainda que muitos grupos não pensem ou joguem desse modo, essa é uma característica essencial destes sistemas, que tentam criar regras e codificações para o maior número possível de situações.

Por exemplo, você não pode fazer X a menos que você possua uma vantagem, perícia ou talento que permita fazer X. O resultado é que se o PC não tiver à sua disposição um talento, perícia ou vantagem que lhe permita fazer tal ação (ou se o sistema não apresentar uma regra específica para essa situação), fica implícito que o PC não pode fazer X.

Exatamente a atitude do Cascão no gibi, que procurava freneticamente nos livros uma regra ou sistema que pudesse ajudar seu PC a escapar da armadilha.

Essa atitude não é nova, obviamente. Três dos quatro sistema que mencionei são anteriores ao d20, e joguei várias sessões de GURPS em que os jogadores agiam exatamente dessa forma. Porém isso era a exceção, não a regra. Mas aparentemente, com a popularização do d20 houve uma mudança de paradigma, em que o uso da imaginação e a arbitragem do mestre são desencorajadas. A imaginação e a criatividade dos jogadores é engessada e preterida em favor de regras, tabelas, listagens de talentos, etc.

Claro, cada um tem seu estilo de jogo. Mas as coisas pareciam bem mais divertidas quando as ações dos nossos personagens eram limitadas apenas pela imaginação ou verossimilitude, e os sistemas de regras davam mais liberdade criativa aos PC's e ao Mestre.

E vocês? Qual estilo e tipo de sistema preferem?

Até a próxima.
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